quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Política da Internacional (parte IV)


Escrito por Mikhail Bakunin, originalmente publicado em L´Egalité, nº 32 em 28 de Agosto de 1869, extraído do livro O Socialismo Libertário, lançado pela Global Editora, 1979.

A Associação Internacional dos Trabalhadores, para permanecer fiel ao seu princípio e para não se desviar da única via que pode conduzi-la ao seu objetivo, deve sobretudo precaver-se contra as influências de dois tipos de socialismo burguês: os partidários da política burguesa, incluindo mesmo os revolucionários burgueses, e os da cooperação burguesa, denominados homens práticos.
Comecemos pelos primeiros.
A emancipação econômica, como já dissemos no nosso número precedente, é a base de todas as outras emancipações. Resumimos nestas palavras toda a política da Internacional.
Com efeito lê-se a seguinte declaração nos considerandos dos nossos estatutos gerais:
“Que a sujeição do trabalho ao capital é a fonte de toda a servidão política, moral e material, e que, por esse motivo, a emancipação econômica dos trabalhadores é o grande objetivo ao qual deve estar subordinada toda a movimentação política.”
É evidente que todo o movimento político que não tenha por objetivo imediato e direto a emancipação econômica, definitiva e completa dos trabalhadores, e que não inscreva na sua bandeira, com clareza e determinação, o princípio da igualdade econômica, isto é, a restituição integral do capital ao trabalho, ou seja, a liquidação social – é um movimento burguês e, como tal, deve ser excluído da Internacional.
A política dos burgueses democratas, ou socialistas burgueses – que, declarando “que a liberdade política é a condição prévia da emancipação econômica”, e que entendem por estas palavras que as reformas ou as revoluções políticas devem preceder as reformas ou as revoluções econômicas e que os operários se devem aliar aos burgueses mais ou menos radicais para com estes fazerem as primeiras, e não as últimas, por serem contra eles, - deve por conseguinte, ser excluída, sem piedade.
Protestamos veementemente contra esta funesta teoria, que só poderia conduzir os trabalhadores a uma situação em que seria uma vez mais instrumentos contra si próprios e a entregarem-se de novo à exploração dos burgueses.
Conquistar a liberdade política primeiro, não pode significar mais do que conquistar apenas ela, deixando, pelo menos nos primeiros dias, as relações econômicas e sociais no estado em que se encontram, isto é, os proprietários e os capitalistas com a sua insolente riqueza, e os trabalhadores com a sua miséria. Mas uma vez conquistada esta liberdade, diz-se, ela servirá para os trabalhadores como instrumento para conquistar mais tarde a igualdade ou a justiça econômica.
A liberdade é, com efeito, um magnífico e poderoso instrumento. O problema é saber se os trabalhadores poderiam de fato, dela se servirem, se eles a possuiriam realmente, ou se, como sempre aconteceu até agora, a sua liberdade política não seria mais do que uma aparência enganadora, uma ficção?
Se na atual situação econômica se falasse a um operário de liberdade política, este responderia pelo refrão de uma canção bem conhecida:
“Não falem de liberdade: A pobreza é a escravidão!”
E, com efeito, é preciso estar cheio de ilusões para imaginar que um operário, nas condições econômicas e sociais em que se encontra atualmente, pode aproveitar plenamente a sua liberdade política e dela fazer um uso sério e real. Para isso faltam duas pequenas coisas: tempo livre e meios materiais.
Aliás, não terá sido isso que vimos em França, durante a revolução de 1848, a revolução mais radical que se podia desejar sob o ponto de vista político?
Os operários franceses não eram certamente nem indiferentes nem estúpidos, e, apesar do maior sufrágio universal, tiveram que deixar os burgueses manejarem. Por quê? Porque lhes faltavam os meios materiais que são necessários para que a liberdade política se torne uma realidade, porque continuaram escravos forçados pela fome, enquanto os burgueses radicais, liberais e conservadores, uns republicanos de véspera, outros convertidos no dia seguinte, iam e vinham, agitavam, falavam, agiam e conspiravam livremente, uns graças às suas rendas ou à sua lucrativa posição burguesa, outros graças ao orçamento do Estado, que naturalmente foi conservado e que se tornou mesmo mais forte do que nunca.
Sabe-se o que daqui resultou: primeiro, as jornadas de Junho; mais tarde, como conseqüência necessária, as jornadas de Dezembro.
(...)
A Associação Internacional dos Trabalhadores, fiel ao seu princípio, não dará nunca apoio a uma agitação política que não tenha por objetivo imediato e direto a completa emancipação econômica do trabalhador, isto é, a abolição da burguesia como classe economicamente separada da massa da população, nem a nenhuma revolução que, desde o primeiro dia, desde a primeira hora, não inscreva na sua bandeira a liquidação social.
* publicado na edição de setembro de 2008 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.