quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Força da Associação


Escrito por Mikhail Bakunin, originalmente publicado em L´Egalité nº II, de 3 de abril de 1869, estraído do livro Bakunin, fundador do Sindicalismo Revolucionário - A dupla greve de Genebra, lançado por editora Imaginário e Faísca Publicações em 2007. O título é nosso.

(...)Toda a prosperidade burguesa, sabemo-lo, enquanto propriedade exclusiva, está fundada sobre a miséria e sobre o trabalho forçado do povo, forçado não pela lei, mas pela fome. Essa escravidão do trabalho denomina-se, é verdade, nos jornais liberais tais como o Journal de Genève, a liberdade do trabalho. Mas essa estranha liberdade é comparável àquela de um homem desarmado e nu, que se o entregaria à mercê de um outro armado dos pés à cabeça. É a liberdade de se fazer esmagar, abater – Tal é a liberdade burguesa. Compreende-se que os burgueses a adorem e que os trabalhadores não a suportem absolutamente; pois essa liberdade é para os burgueses a riqueza, e para os trabalhadores a miséria.
Os trabalhadores estão cansados de ser escravos. Não menos que os burgueses, mais que os burgueses, eles amam a liberdade, porque compreendem muito bem, sabem por uma dolorosa experiência que sem liberdade não pode haver para o homem dignidade nem prosperidade. Mas não compreendem a liberdade senão na igualdade; porque a liberdade na desigualdade é o privilégio, quer dizer, a fruição de alguns fundada no sofrimento de todos. – Eles querem a igualdade política e econômica simultaneamente, porque a igualdade política sem a igualdade econômica é uma ficção, uma enganação, uma mentira, e eles não querem mais mentiras. – Os trabalhadores tendem, então, necessariamente, a uma transformação radical da sociedade que deve ter por resultado a abolição das classes do ponto de vista econômico tanto quanto político, e a uma organização na qual todos os homens nascerão, desenvolver-se-ão, instruir-se-ão, trabalharão e fruirão dos bens da vida em condições iguais para todos. – Tal é o desejo da justiça, tal é, também, o objetivo final da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Mas como ir do abismo de ignorância, de miséria e de escravidão na qual os proletários dos campos e das cidades estão hoje mergulhados, a esse paraíso, a essa realização da justiça e da humanidade sobre a terra? – Para isso, os trabalhadores só tem um meio: a associação. Pela associação, eles instruem-se, informam-se mutuamente, e põem fim, por seus próprios esforços, a essa fatal ignorância que é uma das principais causas de sua escravidão. Pela associação, eles aprendem a ajudar-se, conhecer-se, apoiar-se um no outro, e acabarão por criar uma força mais formidável do que aquela de todos os capitais burgueses e de todos os poderes políticos reunidos.
A Associação tornou-se, pois, a palavra de ordem dos trabalhadores de todas as indústrias e de todos os países nesses vinte últimos anos sobretudo, e toda a Europa encontrou-se munida, como que por encantamento, de uma multidão de sociedades operárias de todos os tipos. É incontestavelmente o fato mais importante e ao mesmo tempo mais consolador de nossa época, - o sinal infalível da emancipação próxima e completa do trabalho e dos trabalhadores na Europa.
Mas a experiência desses mesmos vinte anos provou que as associações isoladas eram aproximadamente tão impotentes quanto os trabalhadores isolados, e que mesmo a federação de todas as associações operárias de um único país não bastaria para criar uma força capaz de lutar contra a coalizão internacional de todos os capitais exploradores do trabalho na Europa; a ciência econômica demonstrou, por outro lado, que a emancipação do trabalho não é absolutamente uma questão nacional; que nenhum país, por mais rico, por mais poderoso e por mais importante que ele seja, não pode, sem arruinar-se e sem condenar todos os seus habitantes à miséria, empreender qualquer transformação radical das relações do capital e do trabalho, se essa transformação não se faz igualmente, e ao mesmo tempo, ao menos em uma grande parte dos países da Europa, e que, por conseqüência, a questão da libertação dos trabalhadores do jugo do capital e de seus representantes, os burgueses, é uma questão eminentemente internacional. Disso resulta que a solução só é possível no terreno da internacionalidade.
Operários inteligentes, alemães, ingleses, belgas, franceses e suíços, fundadores de nossa bela instituição, compreenderam-no. Eles também compreenderam que, para realizar essa magnífica obra de emancipação internacional do trabalho, os trabalhadores da Europa, explorados pelos burgueses e esmagados pelos Estados, só deviam contar com eles próprios. Assim foi criada a grande Associação Internacional dos Trabalhadores.(...)
(...)A Associação Internacional dos Trabalhadores, fazendo, pois, completa abstração de todas as intrigas políticas atualmente, só conhece, neste momento, uma única política: aquela de sua propaganda, de sua extensão e de sua organização. – No dia em que a grande maioria dos trabalhadores da América e da Europa tiver ingressado e estiver bem organizada em seu seio, não haverá mais necessidade de revolução; sem violência a justiça será feita. E, então, se houver cabeças quebradas, é porque os burgueses assim o quiseram.
Mais alguns anos de desenvolvimento pacífico, e a Associação Internacional tornar-se-á uma força contra a qual será ridículo querer lutar. Eis o que os burgueses compreendem demasiado bem, e eis porque eles hoje nos provocam para a luta. Hoje, eles esperam ainda poder nos afastar, mas sabem que amanhã será demasiado tarde. Eles querem forçar-nos a travar batalha com eles agora.
Cairemos nesta armadilha grosseira, operários? Não. Faríamos muito prazer aos burgueses e arruinaríamos a nossa causa por muito tempo. Temos conosco a justiça, o direito, mas nossa força ainda não é suficiente para lutar. Comprimamos, pois, nossa indignação em nossos corações, permaneçamos firmes, inquebrantáveis, mas calmos, quaisquer que sejam as provocações dos jovens arrogantes e impertinentes da burguesia. Suportemos ainda; não estamos habituados a sofrer? Soframos, mas não esqueçamos nada.
E, enquanto aguardamos, prossigamos, redobremos, ampliemos cada vez mais o trabalho de nossa propaganda. É preciso que os trabalhadores de todos os países, os camponeses bem como os operários das fábricas e das cidades, saibam o que quer a Associação Internacional, e compreendam que, fora de seu triunfo não há para eles qualquer outro meio de emancipação sério; que a Associação Internacional é a pátria de todos os trabalhadores oprimidos, o único refúgio contra a exploração dos burgueses, a única força capaz de derrubar o poder insolente dos burgueses.
Organizemo-nos, ampliemos a nossa Associação, mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos de consolidá-la a fim de que nossa solidariedade, que é toda a nossa força, torne-se a cada dia mais real. Sejamos cada vez mais solidários no estudo, no trabalho, na ação pública, na vida. Associemo-nos em empresas comuns para fazer nossa existência um pouco mais suportável e menos difícil; formemos em toda parte, e tanto quanto nos seja possível, essas sociedades de consumo, de crédito mutual e de produção, que, enquanto incapazes de emancipar-nos de uma maneira suficiente e séria nas condições econômicas atuais, habituam os operários à prática dos negócios e preparam germes preciosos para a organização do futuro.
Esse futuro está próximo. Que a unidade de escravidão e miséria que hoje abraça os trabalhadores do mundo inteiro, transforme-se para todos nós em unidade de pensamento e vontade, de objetivo e aço, - e a hora da libertação e da justiça para todos, a hora da reivindicação e da plena satisfação soará.

* publicado na edição de julho/agosto do jornal O Libertário, informativo do PAEM.